Encíclica DIVINI ILLIUS MAGISTRI – PAPA PIO XI
“O fim próprio e imediato da educação cristã é cooperar com a graça divina na formação do verdadeiro e perfeito cristão”“...a educação cristã abraça toda a extensão da vida humana, sensível, espiritual, intelectual e moral, individual, doméstica e social, não para diminuí-la de qualquer maneira, mas para a elevar, regular e aperfeiçoar segundo os exemplos e doutrina de Cristo.”
Na presente encíclica a Papa Pio XI se
dirige a toda a igreja, mas também aos pais e mães de família e mesmo estando
no ano de 1929, que pode parecer ser um tempo distante demais, já fala em ‘tempos
de grande falta de claros e sãos princípios’.
A igreja foi a grande formadora da cultura
ocidental, partiu dela a criação de escolas, universidades, incentivos a
pesquisa, desenvolvimento e conservação das artes em geral. Sendo uma mãe zelosa
está sempre a vigiar as mudanças que vão surgindo no mundo, nas investidas contra
a dignidade do homem e contra a família. Nesta encíclica o Papa já nos alerta
sobre os muitos métodos e teorias pedagógicas que estariam surgindo, oferecendo
receitas infalíveis que preparariam as gerações para a felicidade terrena.
“Por isso é que para eles criou e promoveu, em todos os séculos, uma imensa multidão de escolas e institutos, em todos os ramos do saber...”
O texto deixa claro que a primazia no tocante
a educação pertence à família, podendo esta ser auxiliada pelo Estado, desde
que seja respeitada a doutrina da igreja. É um direito e um dever da família zelar
pela educação dos filhos, sendo esta uma missão recebida do próprio Deus,
quando a confiou a guarda destas almas. Segundo o Papa Pio XI, esta ‘obrigação
do cuidado da parte dos pais continua até que a prole esteja em condições de
cuidar de si, assim como o direito educativo dos pais também perdura’.
Lendo a presente encíclica e lançando um
olhar para os nossos dias, particularmente, não creio ser possível olhar para a
escola, seja ela pública, particular, laica ou confessional sem que o coração
fique perturbado. Não posso afirmar que não existam mais escolas católicas que
sejam verdadeiramente católicas, que priorizem a educação cristã, que guarde os
alunos de tantas perversões, que zelem por uma educação verdadeira, que busque
educar o homem de forma integral, (corpo, mente e alma), no entanto, posso
afirmar categoricamente que esta não é uma realidade nas escolas que conhecemos
e a que temos acesso. Hoje, os pais que desejam responder ao chamado de Deus na
educação de seus filhos não possuem nenhuma opção que não a educação
domiciliar, nos moldes em que era praticada antes da criação das escolas.
“Devem portanto os pais esforçar-se e trabalhar energicamente... e assegurar de um modo absoluto que lhes fique o poder de educar cristãmente os filhos, como é da sua obrigação, e principalmente o poder de negá-los àquelas escolas em que há o perigo de beberem o triste veneno da impiedade.”
Em se tratando de educação dos filhos, os
pais precisam travar uma verdadeira guerra contra o Estado, justamente para
assegurar o direito da educação em detrimento do próprio Estado, que deveria
proteger a família com o uso de sua autoridade civil e não usar esta autoridade
para subjugar e anular o poder decisório da família no tocante a educação dos
filhos. O Estado quer que a família seja passiva e alheia a educação dos
filhos, tanto quanto possível, para então moldá-los conforme seus ideais. Os
pais que optam por colocar os filhos na escola e que buscam vigiar, opinar,
defender os interesses da família e do filho diante da comunidade escolar são
vistos como um grande incômodo, encontrando todo o tipo de resistência.
A educação domiciliar é uma ‘revolta’ das famílias
que perceberam, pela graça de Deus, todo o dano que uma formação defeituosa tem
causado a toda a sociedade. Ao lançarmos um olhar para os grandes doutores da
igreja, para os ensinamentos dos Papas e para a própria história da humanidade
é fácil perceber que uma educação onde Deus não esteja no centro, onde fé e
razão caminhem de mãos dadas, esta fadada ao fracasso.
“A Fé e a razão não só não podem contradizer-se nunca, mas auxiliam-se mutuamente, visto que a reta razão demonstra os fundamentos da Fé, e iluminada pela sua luz, cultiva a ciência das coisas divinas, ao passo que a Fé livra e protege dos erros a razão e enriquece-a com vários conhecimentos.”
Creio que o Papa Pio XI deu especial
atenção a educação escolar por saber que esta é a opção da grande maioria dos
fieis. São muitas as famílias que trilharão este caminho e que para responderem
ao ordenamento de Deus e da Madre Igreja enfrentarão muitos espinhos, viverão
sua própria via crucis e contarão com o socorro da Graça Divina. Na educação
domiciliar não será diferente, as famílias viverão também muitas dificuldades,
terão que recorrer constantemente à Misericórdia do Senhor e terão que
acreditar que a Graça Divina suprirá toda e qualquer deficiência que por
ventura tiverem. A educação domiciliar é um chamado particular a que devemos
responder sempre esperando em Deus.
São muitas as riquezas que podem ser
colhidas com a leitura desta encíclica. A diversidade de assuntos tratados (educação
para a fé, ideologias que incentivam o abandono da fé e uma autonomia egoísta,
educação sexual, escolha da educação a ser dada, tipos de escolas, etc) e a importância
destes, assim como a devida orientação para cada assunto proporciona muitos
dias de reflexão. Ressaltarei aqui aquela que veio de encontro a nossa
realidade e anseios, palavras essas que acatamos como um ordenamento para nossa
família e que reforçaram o objetivo que elegemos para a educação dos filhos que
Deus nos confiar: “Nunca o estudo da língua
pátria e das letras clássicas redundará em detrimento da santidade dos
costumes.” Deus deve estar sempre em primeiro lugar, presente em tudo o que
for estudado, o olhar a ser lançado deve sempre ser um olhar que busca
encontrar Deus em toda a sua criação.
“...em geral, a educação mais eficaz e duradoura é aquela que se recebe numa família cristã bem ordenada e disciplinada, tanto mais eficaz quanto mais clara...”