Catecismo da Educação – Abade René Bethléem
– 1917 - Parte 4
Livro III – A educação Intelectual
“A alimentação da inteligência é como a alimentação do corpo. Não é o que se come que nutre, mas unicamente o que se digere.”
Já li algumas coisas, anteriormente, que
falam sobre a importância da educação intelectual no processo de formação da
criança. No entanto, esta parte do Catecismo da Educação somou, e muito, em
conhecimento para mim como mãe. Quando
se pensa em intelecto é preciso se atentar a várias condições necessárias para
que seja conquistada uma educação intelectual robusta. Qual não foi minha
surpresa quando a primeira condição a ser abordada foi a condição física. Sim,
a condição física, o meio em que a criança esta inserida, pesa muito para a
formação de seu intelecto. A ação que o meio exerce pode ser por vezes, invisível
ou não perceptível, porém é forte. A criança é sensível a tudo o que ocorre ao
seu redor e acaba sendo influenciada, mesmo que inconscientemente por tudo que
a cerca.
“Caso nada se possa fazer para elevar o meio em que se vive, esforça-se ao menos para evitar a todo custo a deformação.”
“Pelo menos que a criança nada veja e nada ouça de insensato. Por ser intelectualmente falso; nada de grosseiro ou inconveniente por ser moralmente falso: o espírito vive da verdade, e o erro deforma-o.”
A partir de um meio sadio, onde se convive
e se valoriza o Belo e a Verdade, os pais podem então iniciar a formação do intelecto
dos filhos cultivando a cultura de
atenção, indicada pelo autor como o
segredo da preparação intelectual. É
preciso que a criança tenha interesse pelas coisas que a cercam. A natureza, o convívio
entre as pessoas, a dinâmica da sociedade em que esta inserida e caso este
interesse não exista, deve então ser despertado pelos pais, através de estímulos.
É preciso treinar a visão, através de passeios e da observação da natureza. Enxergar
o reflexo da perfeição do Criador em suas obras, no desabrochar de uma flor,
nos ciclos vividos pelas árvores, na procriação dos animais, na dinâmica das
estações, por fim, em toda a sua criação.
É Preciso treinar os ouvidos/ audição com a contação de histórias. Que sejam
curtas, verdadeiras, interessantes, cristãs. Que tudo o que chegar aos ouvidos
da criança leve a verdade, o belo e que não a canse em demasiado. Que a criança
consiga absorver a mensagem da história. Digeri-la como se digere o alimento,
retirando tudo o que seja proveitoso para sua formação e assim aprender com ela.
Para que as informações recebidas através
dos estímulos (leitura, estudos, observação do meio, etc.) sejam transformadas
em conhecimento e que este conhecimento seja assimilado, são necessárias
condições como: o exercício da atenção e o hábito da reflexão. De pouco ou nada
valerá horas e horas de empenho por parte dos pais, seja na preparação de
atividades e programas curriculares, se a criança não tem interesse por aquilo
que esta sendo dito.
Na atualidade, perdeu-se a visão da
finalidade da educação de uma pessoa, que deveria ser a conquista do
conhecimento e da sabedoria. Em se tratando de cristãos, perdeu-se ainda mais.
Como cristãos temos o dever de buscarmos esse conhecimento e esta sabedoria,
para que estes sejam pontes que nos levem à Santidade, à contemplação de Deus. Hoje, infelizmente, os pais ao tratarem da
educação intelectual dos filhos, preocupam-se apenas com os índices de
aprovações dos colégios e em como este auxiliará na conquista de uma carreira
promissora e rentável para seus filhos. A finalidade da educação deixou de ser
a busca pela santidade através do conhecimento e passou a ser a busca pelo
status e pelo prazer corporal.
Nesta busca por índices e posições, os pais
e as escolas sobrecarregam as crianças. Aos 5 anos, elas tem uma agenda cheia. É
preciso saber nadar, pintar, falar três línguas e estar alfabetizada em pelo
menos uma delas, estar em constante socialização e em contato com conflitos
(muito comuns nas escolas e creches) mesmo que não saibam discernir o que
querem comer ou saber como e quando ir ao banheiro. Não sobra tempo para ser
criança. Cada vez mais cedo são deixadas nas escolas, geralmente em período integral.
É preciso estar à frente, saber mais, ser mais. Uma triste realidade.
O catecismo da educação deu um nome a este
quadro: “A sumernage – pode ser definida como uma forma de educação intelectual
na qual a criança trabalha cedo demais, trabalha coisas demais e trabalha mal.
As causas do sumernage são: o espírito de utilitarismo (é preciso aprender, não
para saber, mas para tirar proveito) e furor por boas posições (bom trabalho,
boa renda, etc).”
“A concorrência é enorme e por uma consequência necessária e imediata, multiplicam-se os exames, sobrecarregam-se os programas ano a ano.”
Nas palavras do autor - “Conheço muitos pais que são realmente os
inimigos de seus filhos. Com a ambição de os ver progredir rapidamente e obter em tudo uma superioridade
extraordinária, sobrecarregam-nos com um trabalho tão pesado que os
acabrunham.”
Esta frase me fez refletir por dias a fio,
tendo em vista que estamos em Janeiro e eu, como mãe educadora, estava
planejando nosso ano de estudos, envolta na preparação de atividades e
apostilas, pesquisas de livros literários e buscando enriquecer nosso
curriculum para 2018 com aquelas coisas ‘essenciais’ para a idade dele. Tive
que reavaliar, tirar muitas coisas, trocar outras. Voltar os meus pensamentos e
os meus olhos para a principal finalidade da educação intelectual de nossos
filhos. Me perguntar novamente o ‘para que’ educar nossos filhos em casa. Olhar
novamente para eles, enxergá-los como crianças que são, priorizar seus momentos
de lazer e brincadeiras, tornar-me novamente sua aliada nessa caminhada pelo
conhecimento.
Pode parecer loucura o que vou escrever
agora, mas se pararmos para olhar como estamos lidando com nossas crianças e
conduzindo sua primeira infância, estamos sujeitando-as constantemente a uma violência
intelectual, ou seja, estamos sujeitando-as violentamente a estudos dos quais a
criança não gosta; impondo simultaneamente e às vezes desde a mais tenra idade estudos
aquém de suas capacidades. Estamos criando crianças que abominam os estudos e
que veem sua rotina como uma fase a ser superada e da qual quererá fugir assim
que possível.
Como pais, devemos criar uma ‘Cultura do
gosto’, devemos despertar em nossas crianças o desejo pelo conhecimento. O
gosto é a faculdade de compreender e apreciar
o belo na natureza e na arte. Querer encontrar o conhecimento e se refestelar
com ele. Chamá-lo para um dança e valsar pelos salões da vida sendo seu par.
Que estas palavras do Abade René Bethléem
lhe façam refletir e redirecionar seus dias de educadora, como fizeram comigo,
mesmo que a sua escolha não seja a educação domiciliar.
Abraço fraterno,
Maya
