
Catecismo da Educação – Abade René Bethléem
– 1917 - Parte 7
Livro IV – A educação Moral
– A autoridade (terceira parte)
“A autoridade é uma coisa grande e santa perante a qual o espirito se inclina, sem que o coração se humilhe.”
Em tempos de extrema rebeldia como o que
vivemos, falar ou ler algo sobre autoridade soa no mínimo estranho. Atualmente todos querem mandar e ninguém quer
ser mandado. Crianças que ainda não deixaram as fraldas ditam o ritmo da casa e
da vida de seus pais, pelo simples fato de que estes se esquivam do seu direito
e do seu dever de governar a família com a autoridade que lhes é própria. No entanto, basta uma breve pesquisa na
internet ou uma olhadela em páginas e blogs que falam sobre educação de filhos para
perceber a variedade de teorias educacionais, métodos de disciplina e outros
tantos pacotes prontos para serem vendidos aqueles cujo único problema é não
querer se desgastar no adestramento de seus filhos pequenos.
Apesar de o termo adestramento ser muito
utilizado com referência a animais, ouso dizer que cai muito bem quando o
assunto são crianças muito pequenas. A palavra adestramento refere-se à ação e
ao efeito de adestrar, fazendo alusão ao ato de endireitar, amestrar, instruir,
ensinar, disciplinar, fazer obedecer.
“Governar é servir, eis o que é a autoridade. (Bossuet)”
Existem 3 beneficiários do direito da
autoridade:
- 1º Deus, autor de todos as coisas a quem
devemos obediência plena;
- 2º Os pais, aqueles que são coautores com
Deus e responsáveis por aqueles que com Ele geraram.
- 3º Todos aqueles a quem esta mesma
autoridade é delegada, por Deus e pelos pais.
Sem que os pais façam uso de sua autoridade
torna-se impossível cumprir com suas funções de educadores: - Formar o caráter dos
filhos; - Preservá-los dos perigos; - Fazer-se amar por eles; - Gozar as alegrias
que eles podem lhes proporcionar.
Os pais não devem temer corrigir os filhos,
com receio de que estes deixem de nutrir por eles a afeição própria dos filhos
por seus pais, porém o que se percebe é quase uma aversão à contrariedade. A
criança não pode ser frustrada, não pode ser punida, deve estar sempre feliz e sendo
saciada em todos os seus desejos. O ‘não’ foi extinto nos lares e as consequências
disto têm sido as piores possíveis.
Nessa parte do catecismo da educação é
ressaltada a importância de uma autoridade firme que culmine numa obediência
pronta, de modo que quando esta não existir a autoridade se faça presente e as
correções sejam pontuais e enérgicas. Não se deve dar espaço para a timidez de
alguns pais, que se dirigem aos filhos quase que com receio de serem inconvenientes.
Os filhos são postos em pequenos e brilhantes tronos e seus pais rapidamente
tomam os lugares de servos suplicantes. São muitos os pais que foram bem educados, mas
que não aprenderam a praticar com os filhos a educação que receberam.
“O mal esta na moleza dos costumes domésticos, na fraqueza e na
decadência da autoridade paterna e materna.”
Quando se fala em autoridade enérgica, não
se exclui desta os sentimentos de carinho e afeição, o amor maternal e a
ternura com que devemos tratar aqueles a quem amamos, entretanto, não se pode
em nome desse amor desprezar o dever da educação dos filhos e a pronta
aplicação da autoridade de pais que este requer.
A autoridade além de um direito e um dever é
também uma ciência e como tal tem princípios que o regem. No caso da autoridade
o Catecismo da Educação elenca 5 princípios:
1º É preciso começar a exercê-la muito
cedo.
2º É preciso que os pais sejam os primeiros
a respeitar a fonte de toda a autoridade: Deus.
3º É preciso que os pais apoiem a sua
autoridade em Deus.
4º É preciso que os pais mostrem em tudo um
procedimento digno e nobre.
5º É preciso que os pais evitem tudo que os
possa colocar no mesmo pé de igualdade com os filhos.
Por fim, apresenta-se nesta parte os meios imediatos
para se adquirir e conservar a autoridade:
1º É preciso falar pouco: Não se
deve desgastar a figura da autoridade com coisas corriqueiras. Deve-se usar a
autoridade quando necessária e jamais permitir que a mesma seja questionada ou
submetida aos caprichos das crianças.
2º É preciso usar de autoridade com
discrição: Todo o excesso é um erro. Intervenha raras vezes, apenas quando
necessário e não o faça sem o conhecimento de causa, ou seja, quando valha a
pena.
3º É preciso ser claro: Quando se
ordena é preciso que saiba exatamente o que se quer e que se exprima com termos
claros, não deixando margem a equívocos.
4º É preciso tomar a sério o que se diz:
Quando não se emprega um tom sério a ordem dada, falando com tom de indiferença
ou casualidade.
5º É preciso exigir uma obediência
imediata: Quando a ordem não é prontamente executada, deve ser tomada como
uma desobediência e não repetir duas, três ou mais vezes a ordem.
6º É preciso manter a firmeza até o fim:
Nunca se deve fazer concessões ou transigir (negociar) de modo que a criança
não ponha em dúvida um só momento, que aquilo que se ordenou deve ser cumprida,
custe o que custar.
Finalizo este resumo com a seguinte
citação:
“Se, com efeito, uma recusa não for definitiva e positivamente uma recusa, se um não se pode converter num sim, sendo apenas uma questão de oportunidade, a criança empregará todos os meios, até os mais violentos e os mais humilhantes, para apressar o momento da submissão paternal ou maternal.”
Não é em vão que a Sagrada Escritura
nos alerta: “Que teu sim, seja sim e o não, seja não.” Mt 5,37
Abraço fraterno,
Maya
