sábado, 30 de dezembro de 2017

Catecismo da Educação – Abade René Bethléem – 1917 - Parte 3


Livro II – A educação física

“É preciso antes de mais nada, fazer do homem um animal são, pois na ordem material, a saúde é o primeiro de todos os bens e sem o qual não se pode gozar bem algum.”

Formar um homem requer do educador trabalho duro e constante. Não existe folga para um pai e uma mãe que desejam educar de fato seus filhos, pois a educação abrange o ser humano como um todo. Sua mente, seu corpo e sua alma.

Neste livro do Catecismo da educação é abordada a educação física do ser humano desde a sua infância. A saúde corporal é destacada como um bem de grande valor, necessária em todas as fases da vida e sem a qual pouco se consegue fazer.

“Como desenvolver uma alma forte, um espírito ativo, cultivado num corpo doentio, cheio de sofrimentos?”

O cuidado com a saúde da criança deve ocorrer desde o ventre materno. A mãe gestante deve dar atenção à alimentação, aos exercícios, ao descanso, ou seja, a tudo aquilo que colaborará para que a criança que carrega no seio nasce com boa constituição física. A educação física de uma criança se inicia aí, antes mesmo de nascer.

É preciso atenção e dedicação à criança proporcionando a esta a amamentação, definida no catecismo como a continuação da gestação: “A mãe que amamenta acaba de criar seu filho, continua a transfundir o seu sangue no sangue do recém nascido e a dar sua carne à carne dele.”

Quando se inicia a alimentação após os 6 meses de vida, o catecismo da educação recomenda a determinação de hora para a alimentação, sendo fiel ao horário e à rotina, evitando lanches fora de hora ou comer a todo momento: “Não se deve acostumar a criança a comer e beber fora das horas das refeições. Permitir que se acostumem a suportar a fome e sobretudo à sede.”

Quanto aos exercícios físicos é preciso que se evite todo tipo de excessos. Aos bebês que não se ‘obrigue’ a andar muito cedo, permitir que o bebê ande a seu tempo, quando o corpo estiver apto para esta fase. Evitar divertimentos/brincadeiras que ofereçam perigo à vida ou saúde da criança. E por fim, tomar ar livre e sol diariamente.

Para o bom desenvolvimento físico da criança, o sono é de grande importância, pois é durante o sono que o corpo se recupera e produz hormônios importantes para o crescimento. É preciso, tanto para a criança quanto para o adulto, deitar cedo e acordar cedo, utilizar cama/ colchão duro e travesseiro baixo, arejar diariamente o quarto, trocar as roupas de cama periodicamente e evitar tapeçarias e cortinas que acumulem poeiras.

A limpeza dos ambientes e do corpo da criança vem somar, com demais itens, o asseio com os cabelos, nariz, ouvido, boca e dentes e com as roupas são importantes, no entanto devem também ser modesto, grave, severo e digno, evitando com isso desenvolver na criança a vaidade excessiva e o desejo de elogios. “Modéstia e simplicidade são provas de bom gosto e de boa prática.”

Nesta parte o autor dedica algumas páginas para falar sobre os cuidados médicos, especialmente de situações da rotina de uma casa que apresentam riscos de acidentes e citando algumas doenças comuns na infância e como proceder diante de cada situação.  

A leitura deste livro colabora grandemente com os pais que desejam educar seus filhos integralmente, porém, é preciso durante a leitura perceber aquilo que se modificou no dia a dia das pessoas desde que este foi escrito. Cem anos se passaram e hoje temos rotinas muito mais insalubres, com alimentos industrializados, ritmo de vida acelerados, pessoas sedentárias, além de todo o desenvolvimento médico e farmacológico. Atualmente somos impelidos a deixar os cuidados medicinais e a sempre recorrer às drogas vendidas nas farmácias. É preciso buscar o bom senso, diante de cada situação, não intoxicando nossas crianças com todo o tipo de drogas, mas sem ignorar as situações em que estas se fazem necessárias.

Abraço fraterno,


Maya

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

TEACHING FROM REST – Sarah Mackenzie – Parte 3 e posfácio

TEACHING FROM REST – Sarah Mackenzie – Parte 3 e posfácio


“Primeiro mantenha a paz dentro de si mesmo, então você também pode trazer a paz para os outros. Thomas Kempis, Imitação de Cristo ”


Finalizo este livro com aquele incrível sabor de quero mais. Aquela sensação maravilhosa que uma leitura simples e edificante proporciona à mente e à alma enquanto lemos. De todos os livros que li sobre educação de filhos e homescholling, por certo, este foi o que mais impactou nossa rotina, decisões e estado de espírito. Sarah Mackenzie, sendo direta, sem muitos rodeios ou floreios, no entanto, repleta de carinho e leveza nos conduz por questionamentos e situações que muito inquietam quando se caminha nesse mundo de educação domiciliar.

“Uma mãe pacífica e feliz é a verdadeira chave para a educação em casa bem sucedida”. Esta frase reverberou em meus pensamentos por dias a fio. De forma quase cirúrgica extirpou as tensões, medos, ansiedades e, porque não, neuroses que me acompanhavam há bastante tempo. Em minhas listas sempre havia: currículos, rotinas, materiais didáticos, livros literários, estudos de métodos, cursos e mais cursos, atividades extracurriculares e mais tantas outras coisas que buscamos para nos capacitar e praticar com nossos filhos. Entretanto, o descanso, a paz em minha mente, o relaxamento que convém a uma mente confiante em Deus, a felicidade que advém quando se sabe estar fazendo o melhor que pode pelos filhos, isso não estava em nenhuma posição nas listas.

Diante disto, como desejar que as crianças sejam tranquilas, educadas e atentas, quando não enxergam isso em mim? Para seus coraçõezinhos ver a mãe tranquila, alegre e confiante diante dos percalços que surgem é o mais importante. É isso que precisam ver quando buscam o olhar materno, seja no aguardo do elogio ou da correção. E foi isso que aprendi durante a leitura deste livro.

No Brasil, uma vez que a educação domiciliar é algo ‘novo’ e ainda não consolidado, a busca por informações, troca de experiências com famílias, especialmente com as mães, que já vivem esta realidade há mais tempo, tanto pode ajudar muito, como também atrapalhar. A ansiedade de perceber em outras famílias uma realidade de rotina e estrutura que falta a sua própria casa rouba a paz. Esquece-se de que essas famílias passaram pelas dificuldades iniciais, que ‘bateram a cabeça’ muitas vezes, até chegarem onde estão. Esquece-se que são crianças em idades diferentes e rendimentos diferentes. Custa-se muito a entender que jamais devemos tentar nos nivelar com outras mães e que uma das grandes maravilhas da educação domiciliar reside exatamente aí. Sua família é única e isso torna a educação domiciliar praticada em sua casa, também única. Os temperamentos, as condições psicológicas e financeiras são diversas. Tentar se nivelar com essas mães astutas e super dinâmicas não vai ajudar em nada. A ordem da vez é: Busque SE conhecer. Compreenda suas habilidades, deficiências, potencialidades e trabalhe a favor de sua família. Inspire-se em outras famílias sem jamais desejar ser como ela.






“O descanso não é a ausência de trabalho. É a ausência de ansiedade.”



Somos modelos vivos para nossos filhos. Se desejamos que eles sejam algo, devemos antes sê-lo. Podemos falar-lhes sobre virtudes e exorta-los a afastarem-se dos vícios, no entanto, se não demonstrarmos em nossas vidas o que falamos, dificilmente eles seguirão tal caminho. Nossos filhos devem estar à frente de toda e qualquer crise. Até que as coisas se acalmem devemos escolher estar com eles. As atividades curriculares são apenas atividades, papéis. Nada mais! O relacionamento entre mãe e filho, o carinho e atenção que dispensamos a eles será sempre mais importante para o bom desenvolvimento intelectual deles. Abrace, beije, façam um passeio, respire, relaxe e então quando possível retomem de onde pararam.

As crianças precisam saber-se amadas, que são importantes para nós. Olhe nos olhos quando falarem. Pare e escute o que dizem. Suas pequenas descobertas, mesmo que pareçam insignificantes aos adultos, são para eles grandes tesouros que prontamente querem partilhar conosco.

“Seus filhos não são pessoas normais ou comuns. Não existem pessoas normais ou comuns, elas são reflexos do Todo Poderoso.”

Dentre os muitos puxões de orelha que tomei no decorrer desta leitura, o mais dolorido, talvez por ser obrigada a confrontar um defeito conhecido, porém ignorado, foi: “Algumas pessoas se chamam ‘multitarefas’, como se isso fosse uma habilidade desejada e aprimorada, mas nada mais é do que uma falta de foco...”. li e reli esta frase, pensando em todas as vezes em que realizei várias coisas ao mesmo tempo e em como isso chega a ser uma grande falta de respeito e educação. Computo esta falha ao tempo que passei no mercado de trabalho, onde o tempo e a produtividade deveriam ser potencializados ao máximo e permiti que esse mau hábito se enraizasse em mim. Desde esta leitura e reflexão não foram poucas as vezes em que falhei, porém agora que fui confrontada com o erro não posso mais fazer as pazes com ele. É preciso mudar. Recomeçar.

Um desses confrontos foi me reconhecer como na passagem onde Jesus caminha sobre as aguas, em meio à tempestade e convida Pedro a ir ao seu encontro. Não que eu me visse com a confiança e disponibilidade de Pedro, mas pude perceber que praticar a educação domiciliar é estar a todo o momento em meio a tempestades: Críticas e incompreensões, olhares desconfiados e comentários, sentimentos de inadequação, crises comportamentais, sobrecarga de afazeres e planejamentos, cobranças e questionamentos. São ventanias que vem contra nós, a confiança e tranquilidade se esvai e logo começamos a afundar e a nos perguntar: ‘O que estou fazendo?’ e então, percebemos que o Descansar do qual se fala em todo o livro é justamente este reconhecer de incapacidades e completo abandono em Deus.

Sarah nos lembra que os frutos deste trabalho que nos propomos a realizar na educação domiciliar e cristã de nossos filhos, são frutos que podemos não chegar a ver madurar. Fomos chamados a plantar sementes, cultivar pequenas mudas, ajuda-las a crescer e confiar que os frutos virão a seu tempo.

Enquanto realizamos este trabalho de confiança cega, precisamos estar constantemente levando nossos cestos de peixes e pães e apresentando a Jesus pelas mãos amorosas de Maria. Precisamos escutar o chamado de Jesus e nos por em marcha, mesmo que sobre as aguas e em meio às tempestades. Devemos continuar a nos encher e encher também nossos filhos da água do conhecimento e esperar o milagre do vinho da sabedoria.

Como último presente o livro nos indica três atitudes para encher nossos jarros de água:

1-      Escolher um mentor literário – Um autor para ser lido e com o qual possamos aprender. Elegi para iniciar: Chesterton, Jane Austen, Tolkien e Charlotte Manson.
2-      Fazer cópias manuscritas da Bíblia. Pode ser um evangelho ou um livro bíblico de sua preferência. A escrita levará a uma meditação mais profunda e proveitosa.
3-      Participar de Grupo de amigas que desejam cultivar a aprendizagem pessoal, a verdade, a bondade e a beleza. Recomenda-se encontros, sempre que possível, para partilhas e conversas amenas.

“Homescholling não é sobre escola preparatória. Trata-se de busca por sabedoria, de tornar-se seres virtuosos, é sobre a transformação da alma.”

Com um objetivo tão ambicioso assim porque se ater em conferências de listas e currículos imensos, uma vez que no homescholling não temos que seguir uma linha de produção fabril como nas escolas e sim desenvolvermos cada filho com suas individualidades e potencialidades? Evidentemente, deve-se haver um zelo quanto ao que será ensinado, no entanto é preciso deixar para trás cargas desnecessárias, nos reconhecer incapazes da perfeição, saber-se passível de erros e confiar que Deus usará desses erros tão bem quanto dos acertos e então descansar.

Abraço fraterno,

Maya





quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Catecismo da Educação – Abade René Bethléem – 1917 - Parte 2

Catecismo da Educação – Abade René Bethléem – 1917 - Parte 2
Terceira Parte - Os contra-Educadores / Quarta Parte - A criança a educar

Apesar de ser uma parte curta ela vem recheada de ensinamentos e muito nos acrescenta com sua leitura. Não me delongarei, mas tentarei expor o que de mais importante encontrei.

Logo no início desta parte o catecismo da educação nos fala sobre os contra educadores e os danos que estes causam na educação dos filhos. Já diz o ditado: “muito ajuda, quem não atrapalha!” e creio que esta é uma frase que sintetiza o catecismo da educação quando fala sobre os contra educadores, sejam eles avós, tios, amigos ou professores. 

São muitas as relações de convívio que acabam por se tornar nocivas e que dificultam ou mesmo atrapalham a educação de uma criança. São bajulações e comentários que desautorizam os pais perante os filhos, maus exemplos de comportamento e conversas, entre outros. Para casos assim o ideal é evitar a todo o custo o convívio. Quando são amigos ou professores basta aos pais a decisão de afastar as crianças definitivamente desses contra educadores, mudando-os de escola e rompendo laços de amizade. Infelizmente, com os parentes a situação é um pouco mais complicada e o máximo que se consegue é reduzir tais situações. Creio que a melhor saída nesses casos seja uma conversa franca e expor claramente a insatisfação com as atitudes prejudiciais, afirmando sempre que a decisão quanto a educação dos filhos é essencialmente dos pais e pedindo que sejam respeitados os limites para que o convívio seja saudável e agradável a todos.

“São prudentes os pais que, tendo filhos (posto que sejam crianças), sem raramente, recebem pouco, e vivem o mais possível em família, no recolhimento que produzem o sentimento da responsabilidade e o temor de Deus.”

Nesta parte o catecismo da educação reforça mais uma vez quanto a grande responsabilidade da mãe na educação e formação dos filhos. Para isto diz: ‘Mães, deixai-vos estar em casa. Sim, mães, ficai em casa junto dos vossos filhos, e velai por eles, tanto quanto possível. Quando o dever vo-lo não permitir, tendes o direito de esperar que os anjos da guarda de vossos filhos vos substituam junto deles. Mas não tereis esse direito, quando pretenderdes esquivar-vos ao cumprimento do vosso dever, quando abandonais o vosso lar unicamente por gozo.’ 
Como mãe e sendo uma mãe educadora (que pratica educação domiciliar com os filhos) devo admitir que não é nada fácil o dia a dia em casa, a realizar os cuidados domésticos que um lar exige, lidar com os constantes conflitos, birras e caprichos de crianças pequenas que precisam ser educadas e corrigidas constantemente. É o chamado de Deus para nossas vidas, que nos pede doação e abnegação constantes. É a cruz que nos levará aos céus. No entanto, nossos filhos precisam especialmente e essencialmente dos cuidados de suas mães. Sua presença, seu olhar, seu colo, suas correções. A criança precisa se sentir amada e querida e busca na mãe a afirmação desses sentimentos. 

Nenhum presente, babá ou passeio de fim de semana pode substituir a atenção cotidiana de uma mãe que esta rotineiramente para os cuidados de seus filhos.

É difícil para nós pais relembrarmos como é o ser criança, compreender que elas por vezes não sabem dominar os próprios impulsos e estão a testar o mundo a sua volta e isso inclui quase sempre NOS testar. Se nós adultos não sabemos e não compreendemos nossos próprios temperamentos, como exigi-lo de uma criança? É preciso que busquemos conhecer nossos filhos, seus temperamentos, suas dificuldades e fraquezas, para então tentar incutir em suas mentes e corações virtudes como o autocontrole e a obediência. No entanto, antes disso devemos ser exemplos, reconhecer nossas fraquezas e demonstrar que através do amor a Deus e da oração buscamos ser melhores.

Para finalizar este breve resumo, destaco o que o catecismo da educação diz que devemos compreender antes de tudo:
1º  A criança é uma criança;
2º Ela possui uma individualidade irredutível;
3º Ela tem necessidade de ser amada;
4º Ela é a esperança do futuro;
5º Ela é um depósito de que teremos que prestar contas a Deus.

Ouso dizer que o quinto é aquele que nos força a buscar compreender todos os demais. Reconhecer que aquela criança a quem educamos é imagem e semelhança de Deus, uma alma única e irreptível que nos foi confiada para que cuidemos de seu corpo, guardemos sua pureza, alimentemos seu intelecto, nutrirmos sua alma do Amor de Deus e de Sua palavra, para então a encaminharmos de volta ao seu Criador e que um dia estaremos diante de Nosso Supremo Juiz e deveremos prestar contas desta depósito que nos foi confiado. 

Que o Senhor Deus crave em nossos corações essas palavras e nos conceda sabedoria para cumprir este mandato em nossas vidas.

Abraço fraterno,

Maya