sábado, 30 de dezembro de 2017

Catecismo da Educação – Abade René Bethléem – 1917 - Parte 3


Livro II – A educação física

“É preciso antes de mais nada, fazer do homem um animal são, pois na ordem material, a saúde é o primeiro de todos os bens e sem o qual não se pode gozar bem algum.”

Formar um homem requer do educador trabalho duro e constante. Não existe folga para um pai e uma mãe que desejam educar de fato seus filhos, pois a educação abrange o ser humano como um todo. Sua mente, seu corpo e sua alma.

Neste livro do Catecismo da educação é abordada a educação física do ser humano desde a sua infância. A saúde corporal é destacada como um bem de grande valor, necessária em todas as fases da vida e sem a qual pouco se consegue fazer.

“Como desenvolver uma alma forte, um espírito ativo, cultivado num corpo doentio, cheio de sofrimentos?”

O cuidado com a saúde da criança deve ocorrer desde o ventre materno. A mãe gestante deve dar atenção à alimentação, aos exercícios, ao descanso, ou seja, a tudo aquilo que colaborará para que a criança que carrega no seio nasce com boa constituição física. A educação física de uma criança se inicia aí, antes mesmo de nascer.

É preciso atenção e dedicação à criança proporcionando a esta a amamentação, definida no catecismo como a continuação da gestação: “A mãe que amamenta acaba de criar seu filho, continua a transfundir o seu sangue no sangue do recém nascido e a dar sua carne à carne dele.”

Quando se inicia a alimentação após os 6 meses de vida, o catecismo da educação recomenda a determinação de hora para a alimentação, sendo fiel ao horário e à rotina, evitando lanches fora de hora ou comer a todo momento: “Não se deve acostumar a criança a comer e beber fora das horas das refeições. Permitir que se acostumem a suportar a fome e sobretudo à sede.”

Quanto aos exercícios físicos é preciso que se evite todo tipo de excessos. Aos bebês que não se ‘obrigue’ a andar muito cedo, permitir que o bebê ande a seu tempo, quando o corpo estiver apto para esta fase. Evitar divertimentos/brincadeiras que ofereçam perigo à vida ou saúde da criança. E por fim, tomar ar livre e sol diariamente.

Para o bom desenvolvimento físico da criança, o sono é de grande importância, pois é durante o sono que o corpo se recupera e produz hormônios importantes para o crescimento. É preciso, tanto para a criança quanto para o adulto, deitar cedo e acordar cedo, utilizar cama/ colchão duro e travesseiro baixo, arejar diariamente o quarto, trocar as roupas de cama periodicamente e evitar tapeçarias e cortinas que acumulem poeiras.

A limpeza dos ambientes e do corpo da criança vem somar, com demais itens, o asseio com os cabelos, nariz, ouvido, boca e dentes e com as roupas são importantes, no entanto devem também ser modesto, grave, severo e digno, evitando com isso desenvolver na criança a vaidade excessiva e o desejo de elogios. “Modéstia e simplicidade são provas de bom gosto e de boa prática.”

Nesta parte o autor dedica algumas páginas para falar sobre os cuidados médicos, especialmente de situações da rotina de uma casa que apresentam riscos de acidentes e citando algumas doenças comuns na infância e como proceder diante de cada situação.  

A leitura deste livro colabora grandemente com os pais que desejam educar seus filhos integralmente, porém, é preciso durante a leitura perceber aquilo que se modificou no dia a dia das pessoas desde que este foi escrito. Cem anos se passaram e hoje temos rotinas muito mais insalubres, com alimentos industrializados, ritmo de vida acelerados, pessoas sedentárias, além de todo o desenvolvimento médico e farmacológico. Atualmente somos impelidos a deixar os cuidados medicinais e a sempre recorrer às drogas vendidas nas farmácias. É preciso buscar o bom senso, diante de cada situação, não intoxicando nossas crianças com todo o tipo de drogas, mas sem ignorar as situações em que estas se fazem necessárias.

Abraço fraterno,


Maya

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

TEACHING FROM REST – Sarah Mackenzie – Parte 3 e posfácio

TEACHING FROM REST – Sarah Mackenzie – Parte 3 e posfácio


“Primeiro mantenha a paz dentro de si mesmo, então você também pode trazer a paz para os outros. Thomas Kempis, Imitação de Cristo ”


Finalizo este livro com aquele incrível sabor de quero mais. Aquela sensação maravilhosa que uma leitura simples e edificante proporciona à mente e à alma enquanto lemos. De todos os livros que li sobre educação de filhos e homescholling, por certo, este foi o que mais impactou nossa rotina, decisões e estado de espírito. Sarah Mackenzie, sendo direta, sem muitos rodeios ou floreios, no entanto, repleta de carinho e leveza nos conduz por questionamentos e situações que muito inquietam quando se caminha nesse mundo de educação domiciliar.

“Uma mãe pacífica e feliz é a verdadeira chave para a educação em casa bem sucedida”. Esta frase reverberou em meus pensamentos por dias a fio. De forma quase cirúrgica extirpou as tensões, medos, ansiedades e, porque não, neuroses que me acompanhavam há bastante tempo. Em minhas listas sempre havia: currículos, rotinas, materiais didáticos, livros literários, estudos de métodos, cursos e mais cursos, atividades extracurriculares e mais tantas outras coisas que buscamos para nos capacitar e praticar com nossos filhos. Entretanto, o descanso, a paz em minha mente, o relaxamento que convém a uma mente confiante em Deus, a felicidade que advém quando se sabe estar fazendo o melhor que pode pelos filhos, isso não estava em nenhuma posição nas listas.

Diante disto, como desejar que as crianças sejam tranquilas, educadas e atentas, quando não enxergam isso em mim? Para seus coraçõezinhos ver a mãe tranquila, alegre e confiante diante dos percalços que surgem é o mais importante. É isso que precisam ver quando buscam o olhar materno, seja no aguardo do elogio ou da correção. E foi isso que aprendi durante a leitura deste livro.

No Brasil, uma vez que a educação domiciliar é algo ‘novo’ e ainda não consolidado, a busca por informações, troca de experiências com famílias, especialmente com as mães, que já vivem esta realidade há mais tempo, tanto pode ajudar muito, como também atrapalhar. A ansiedade de perceber em outras famílias uma realidade de rotina e estrutura que falta a sua própria casa rouba a paz. Esquece-se de que essas famílias passaram pelas dificuldades iniciais, que ‘bateram a cabeça’ muitas vezes, até chegarem onde estão. Esquece-se que são crianças em idades diferentes e rendimentos diferentes. Custa-se muito a entender que jamais devemos tentar nos nivelar com outras mães e que uma das grandes maravilhas da educação domiciliar reside exatamente aí. Sua família é única e isso torna a educação domiciliar praticada em sua casa, também única. Os temperamentos, as condições psicológicas e financeiras são diversas. Tentar se nivelar com essas mães astutas e super dinâmicas não vai ajudar em nada. A ordem da vez é: Busque SE conhecer. Compreenda suas habilidades, deficiências, potencialidades e trabalhe a favor de sua família. Inspire-se em outras famílias sem jamais desejar ser como ela.






“O descanso não é a ausência de trabalho. É a ausência de ansiedade.”



Somos modelos vivos para nossos filhos. Se desejamos que eles sejam algo, devemos antes sê-lo. Podemos falar-lhes sobre virtudes e exorta-los a afastarem-se dos vícios, no entanto, se não demonstrarmos em nossas vidas o que falamos, dificilmente eles seguirão tal caminho. Nossos filhos devem estar à frente de toda e qualquer crise. Até que as coisas se acalmem devemos escolher estar com eles. As atividades curriculares são apenas atividades, papéis. Nada mais! O relacionamento entre mãe e filho, o carinho e atenção que dispensamos a eles será sempre mais importante para o bom desenvolvimento intelectual deles. Abrace, beije, façam um passeio, respire, relaxe e então quando possível retomem de onde pararam.

As crianças precisam saber-se amadas, que são importantes para nós. Olhe nos olhos quando falarem. Pare e escute o que dizem. Suas pequenas descobertas, mesmo que pareçam insignificantes aos adultos, são para eles grandes tesouros que prontamente querem partilhar conosco.

“Seus filhos não são pessoas normais ou comuns. Não existem pessoas normais ou comuns, elas são reflexos do Todo Poderoso.”

Dentre os muitos puxões de orelha que tomei no decorrer desta leitura, o mais dolorido, talvez por ser obrigada a confrontar um defeito conhecido, porém ignorado, foi: “Algumas pessoas se chamam ‘multitarefas’, como se isso fosse uma habilidade desejada e aprimorada, mas nada mais é do que uma falta de foco...”. li e reli esta frase, pensando em todas as vezes em que realizei várias coisas ao mesmo tempo e em como isso chega a ser uma grande falta de respeito e educação. Computo esta falha ao tempo que passei no mercado de trabalho, onde o tempo e a produtividade deveriam ser potencializados ao máximo e permiti que esse mau hábito se enraizasse em mim. Desde esta leitura e reflexão não foram poucas as vezes em que falhei, porém agora que fui confrontada com o erro não posso mais fazer as pazes com ele. É preciso mudar. Recomeçar.

Um desses confrontos foi me reconhecer como na passagem onde Jesus caminha sobre as aguas, em meio à tempestade e convida Pedro a ir ao seu encontro. Não que eu me visse com a confiança e disponibilidade de Pedro, mas pude perceber que praticar a educação domiciliar é estar a todo o momento em meio a tempestades: Críticas e incompreensões, olhares desconfiados e comentários, sentimentos de inadequação, crises comportamentais, sobrecarga de afazeres e planejamentos, cobranças e questionamentos. São ventanias que vem contra nós, a confiança e tranquilidade se esvai e logo começamos a afundar e a nos perguntar: ‘O que estou fazendo?’ e então, percebemos que o Descansar do qual se fala em todo o livro é justamente este reconhecer de incapacidades e completo abandono em Deus.

Sarah nos lembra que os frutos deste trabalho que nos propomos a realizar na educação domiciliar e cristã de nossos filhos, são frutos que podemos não chegar a ver madurar. Fomos chamados a plantar sementes, cultivar pequenas mudas, ajuda-las a crescer e confiar que os frutos virão a seu tempo.

Enquanto realizamos este trabalho de confiança cega, precisamos estar constantemente levando nossos cestos de peixes e pães e apresentando a Jesus pelas mãos amorosas de Maria. Precisamos escutar o chamado de Jesus e nos por em marcha, mesmo que sobre as aguas e em meio às tempestades. Devemos continuar a nos encher e encher também nossos filhos da água do conhecimento e esperar o milagre do vinho da sabedoria.

Como último presente o livro nos indica três atitudes para encher nossos jarros de água:

1-      Escolher um mentor literário – Um autor para ser lido e com o qual possamos aprender. Elegi para iniciar: Chesterton, Jane Austen, Tolkien e Charlotte Manson.
2-      Fazer cópias manuscritas da Bíblia. Pode ser um evangelho ou um livro bíblico de sua preferência. A escrita levará a uma meditação mais profunda e proveitosa.
3-      Participar de Grupo de amigas que desejam cultivar a aprendizagem pessoal, a verdade, a bondade e a beleza. Recomenda-se encontros, sempre que possível, para partilhas e conversas amenas.

“Homescholling não é sobre escola preparatória. Trata-se de busca por sabedoria, de tornar-se seres virtuosos, é sobre a transformação da alma.”

Com um objetivo tão ambicioso assim porque se ater em conferências de listas e currículos imensos, uma vez que no homescholling não temos que seguir uma linha de produção fabril como nas escolas e sim desenvolvermos cada filho com suas individualidades e potencialidades? Evidentemente, deve-se haver um zelo quanto ao que será ensinado, no entanto é preciso deixar para trás cargas desnecessárias, nos reconhecer incapazes da perfeição, saber-se passível de erros e confiar que Deus usará desses erros tão bem quanto dos acertos e então descansar.

Abraço fraterno,

Maya





quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Catecismo da Educação – Abade René Bethléem – 1917 - Parte 2

Catecismo da Educação – Abade René Bethléem – 1917 - Parte 2
Terceira Parte - Os contra-Educadores / Quarta Parte - A criança a educar

Apesar de ser uma parte curta ela vem recheada de ensinamentos e muito nos acrescenta com sua leitura. Não me delongarei, mas tentarei expor o que de mais importante encontrei.

Logo no início desta parte o catecismo da educação nos fala sobre os contra educadores e os danos que estes causam na educação dos filhos. Já diz o ditado: “muito ajuda, quem não atrapalha!” e creio que esta é uma frase que sintetiza o catecismo da educação quando fala sobre os contra educadores, sejam eles avós, tios, amigos ou professores. 

São muitas as relações de convívio que acabam por se tornar nocivas e que dificultam ou mesmo atrapalham a educação de uma criança. São bajulações e comentários que desautorizam os pais perante os filhos, maus exemplos de comportamento e conversas, entre outros. Para casos assim o ideal é evitar a todo o custo o convívio. Quando são amigos ou professores basta aos pais a decisão de afastar as crianças definitivamente desses contra educadores, mudando-os de escola e rompendo laços de amizade. Infelizmente, com os parentes a situação é um pouco mais complicada e o máximo que se consegue é reduzir tais situações. Creio que a melhor saída nesses casos seja uma conversa franca e expor claramente a insatisfação com as atitudes prejudiciais, afirmando sempre que a decisão quanto a educação dos filhos é essencialmente dos pais e pedindo que sejam respeitados os limites para que o convívio seja saudável e agradável a todos.

“São prudentes os pais que, tendo filhos (posto que sejam crianças), sem raramente, recebem pouco, e vivem o mais possível em família, no recolhimento que produzem o sentimento da responsabilidade e o temor de Deus.”

Nesta parte o catecismo da educação reforça mais uma vez quanto a grande responsabilidade da mãe na educação e formação dos filhos. Para isto diz: ‘Mães, deixai-vos estar em casa. Sim, mães, ficai em casa junto dos vossos filhos, e velai por eles, tanto quanto possível. Quando o dever vo-lo não permitir, tendes o direito de esperar que os anjos da guarda de vossos filhos vos substituam junto deles. Mas não tereis esse direito, quando pretenderdes esquivar-vos ao cumprimento do vosso dever, quando abandonais o vosso lar unicamente por gozo.’ 
Como mãe e sendo uma mãe educadora (que pratica educação domiciliar com os filhos) devo admitir que não é nada fácil o dia a dia em casa, a realizar os cuidados domésticos que um lar exige, lidar com os constantes conflitos, birras e caprichos de crianças pequenas que precisam ser educadas e corrigidas constantemente. É o chamado de Deus para nossas vidas, que nos pede doação e abnegação constantes. É a cruz que nos levará aos céus. No entanto, nossos filhos precisam especialmente e essencialmente dos cuidados de suas mães. Sua presença, seu olhar, seu colo, suas correções. A criança precisa se sentir amada e querida e busca na mãe a afirmação desses sentimentos. 

Nenhum presente, babá ou passeio de fim de semana pode substituir a atenção cotidiana de uma mãe que esta rotineiramente para os cuidados de seus filhos.

É difícil para nós pais relembrarmos como é o ser criança, compreender que elas por vezes não sabem dominar os próprios impulsos e estão a testar o mundo a sua volta e isso inclui quase sempre NOS testar. Se nós adultos não sabemos e não compreendemos nossos próprios temperamentos, como exigi-lo de uma criança? É preciso que busquemos conhecer nossos filhos, seus temperamentos, suas dificuldades e fraquezas, para então tentar incutir em suas mentes e corações virtudes como o autocontrole e a obediência. No entanto, antes disso devemos ser exemplos, reconhecer nossas fraquezas e demonstrar que através do amor a Deus e da oração buscamos ser melhores.

Para finalizar este breve resumo, destaco o que o catecismo da educação diz que devemos compreender antes de tudo:
1º  A criança é uma criança;
2º Ela possui uma individualidade irredutível;
3º Ela tem necessidade de ser amada;
4º Ela é a esperança do futuro;
5º Ela é um depósito de que teremos que prestar contas a Deus.

Ouso dizer que o quinto é aquele que nos força a buscar compreender todos os demais. Reconhecer que aquela criança a quem educamos é imagem e semelhança de Deus, uma alma única e irreptível que nos foi confiada para que cuidemos de seu corpo, guardemos sua pureza, alimentemos seu intelecto, nutrirmos sua alma do Amor de Deus e de Sua palavra, para então a encaminharmos de volta ao seu Criador e que um dia estaremos diante de Nosso Supremo Juiz e deveremos prestar contas desta depósito que nos foi confiado. 

Que o Senhor Deus crave em nossos corações essas palavras e nos conceda sabedoria para cumprir este mandato em nossas vidas.

Abraço fraterno,

Maya



quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Catecismo da Educação – Abade René Bethléem – 1917 - Parte 1

Catecismo da Educação – Abade René Bethléem – 1917 - Parte 1
Livro 1 - Generalidades sobre a Educação
A educação em Geral / Os educadores (até pág. 45)



“Educar é enobrecer. Enobrecer uma criança é tornar uma alma de criança tão indecisa e indistinta, quase vizinha do nada e guia-la por ascensões sucessivas, às regiões luminosas da verdade, às mais altas regiões da virtude.”

A verdade é imutável e sobrevive ao tempo. Um livro escrito em 1917, exatos 100 anos atrás e que nos cala com os tantos ensinamentos e verdades que nos traz. Em se tratando do necessário para se educar e formar um homem nada mudou. A cada dia surgem novas teorias, métodos milagrosos que prometem um filho perfeito com pouco esforço, entretanto o que era essencial há 100 anos continua o sendo agora. O que mudou foram os desafios a serem superados para incutir na criança uma verdadeira educação, uma educação que as elevem, que as faça almejar o céu, porém os meios para se conseguir são os mesmos.

Afinal, o que vem a ser este educar? Segundo o Abade René educar é fazer que alguém se desentranhe de si mesmo, fazer de uma criança um homem, dum cristão um santo, um eleito. Ler esta definição me fez tremer diante da tamanha responsabilidade que tenho a frente. Como levar meus filhos a serem o que ainda não sou? Como guiá-los por caminhos que ainda não passei? Só me resta contar com a Misericórdia e a Graça de Deus, que não abandona nem deixa sem resposta aqueles que O buscam e me lançar nos estudos, contando que a sabedoria de Deus irá me guiar, fazendo com que eu seja educada agora juntamente com as crianças que Ele mesmo me confiou.





“A criança não é um vaso a encher, mas uma alma a enobrecer.”

Durante a leitura desta primeira parte me recordei do livro ‘A educação dos filhos’ do Monsenhor Álvaro Negromonte que nos ensina uma educação integral, onde se eduque não apenas o corpo, mas a mente e a alma, formando assim o homem como um todo. O Catecismo da Educação também nos chama a atenção quanto à importância de se formar o homem por completo, não bastando dar bons conteúdos se estes não são recebidos por corações e mentes virtuosos e voltados para Deus.

Como muitas pessoas, eu tinha as ‘boas maneiras’ em grande conta no quesito educação, e busco incuti-las em meus filhos, mas o catecismo da educação me fez ver que de nada adianta ensinar boas maneiras a uma criança se não incutir em seus corações as virtudes e o conhecimento de Deus. Isso as fará pessoas polidas, mas vazias. Pode-se de uma forma educada desprezar o outro que passa necessidade ou muito educadamente viver uma vida de vícios. O ensino das boas maneiras é necessário, porém antes se deve preparar o terreno com as sementes das virtudes e do amor a Deus.

“A educação tomada na sua acepção completa, abrange o homem todo, o seu corpo e a sua alma.”

Após a definição do que vem a ser educação o Abade René explica por que a educação é um dever, especialmente dos pais. Ele nos diz: ‘Porque a educação é para os pais o único meio de cumprirem a lei de Deus, que lhes pedirá contas do depósito que lhes confiou.’ Claro que o pais podem contar com a colaboração de outros, como do sacerdote, dos avós, do professor, sendo aquela que não pode faltar, a ajuda de Deus, que esta sempre vindo em socorro de nossas fraquezas.

Quando li sobre o papel da mãe e sobre o quanto ela pode ser determinante no que o filho se tornará quando homem, fiquei a pensar em como tenho sido como mãe, em como tenho rezado pouco pela santificação dos meus filhos, nas minhas falhas com mãe educadora. Foi inquietante ler que ‘Depois de Deus, a obreira mais importante na educação cristã é a mãe, é dela que depende o futuro do seu filho, é ela que pode fazer dele um Abel ou um Caim.’ Como perceber o limite que separa e determina um Abel cheio de virtudes e de amor a Deus, de um Caim cheio de orgulho, preguiça, desdém e que enxerga a Deus como Aquele que pode ficar com o resto? Como uma mãe pode trabalhar para evitar que cresça em seus filhos sentimentos tão danosos? Poderá ela fazer algo? Tratou Eva Caim diferente de Abel? Eva os deu ensinamentos diferentes? Foi capaz de amar mais a um que ao outro? Enfim, são questionamentos que me fiz, mas fiquei sem respostas.

É o filho que salva a mãe.” MGR Rozier, A arte de ser mãe

  A cada leitura, a cada dia que passa, a certeza que me vem ao coração é que de fato, Deus me possibilitou a maternidade por me amar e por desejar suscitar em mim um desejo de santidade, a mesma santidade a qual Ele me chamava constantemente, mas para o qual eu não dava resposta. Foi ao me tornar mãe que O ouvi e O desejei. Foi através do desejo de levar meus filhos ao céu que me vi impelida a buscá-lo também para mim. E para isso tem sido necessário me deixar ser remodelada pelas mãos amorosas de Deus, me deixar ser educada pela nossa Mãe Maria Santíssima, me deixar ser ensinada a como ser uma mulher, uma esposa, uma mãe e uma serva de Deus.

Amar a criança e fazer-se amar por ela, será sempre o grande segredo da educação.”

                         Iniciei este ano de educação domiciliar cheia de certezas e conforme os dias foram passando vi muitas delas irem por terra. Tomei consciência da minha ignorância e de quão grande era a necessidade de estudos, leituras, conversa com outras famílias, o quanto preciso estar aos pés da cruz para conseguir trilhar este caminho.  Amar, amar e amar... Quando tudo parece dar errado é que mais preciso amar... Amar suas fragilidades, seus choros, suas resistências... Dar-lhes colo! Meus filhos precisam mais de uma mãe do que de uma professora. Se não amá-los muito, exceto pelo local, nada será diferente das escolas. E foi isso que mais se fixou em meu coração nesta primeira parte do Catecismo da educação. A harmonia entre os pais, um ambiente de carinho, de acolhimento, de tranquilidade, que transmita ao coração dos nossos filhos a segurança de que precisam para crescerem. Bons exemplos para seguirem e a lembrança constante da presença de Deus em nossos dias. Tendo isto, ‘tudo o mais será acrescentado’. A matemática, a gramática, as ciências, tudo fluirá em suas mentes, pois estarão abastecidos daquilo que mais anseiam.

Abraço fraterno,

Maya


quarta-feira, 22 de novembro de 2017

TEACHING FROM REST – Sarah Mackenzie – Parte 2

TEACHING FROM REST – Sarah Mackenzie – Parte 2


“Curriculum não é algo que compramos. É algo que ensinamos, algo que encarnamos. Algo que nós amamos!”

Sabe aquela sensação de resposta a uma prece? Pois é, exatamente esta a sensação que tive ao iniciar a leitura deste livro. Parecia que cada palavra havia sido escrita pensando nas dificuldades que eu vivo agora. Creio que como a maioria das mães educadoras, que praticam a educação domiciliar, um dos maiores obstáculos é ter a tranquilidade de que está realizando um bom trabalho. A formação do curriculum se torna quase uma obsessão, nos tomando muito tempo entre pesquisas, leituras, conversas entre mães, analises de currículos prontos, sem contar a quantidade de vezes que o modificamos, sempre acrescentando algo que julgamos ser essencial para a formação de nossos filhos e que, por conseguinte é também imprescindível para o curriculum.

No entanto, as alterações são sempre para acrescentar algo, tornar o curriculum mais gordo e pesado e quando a parte prática se inicia este mesmo curriculum, que a princípio se apresentava tão maravilhosamente completo e o plano perfeito para mais uma etapa de ensino, logo se torna uma pedra em nosso sapato. A aplicação de todas aquelas maravilhas acadêmicas a que nos propusemos quando o formulamos se torna uma missão impossível e uma fonte de frustração e preocupação constante. O curriculum que serviria para nos auxiliar, nos orientar, torna-se rapidamente nosso carrasco e maior acusador, apontando a todo o momento o quanto estamos sendo ineficientes na educação domiciliar.

Esquecemo-nos facilmente que este deve estar a nosso serviço, que foi criado para ser auxilio e não nosso mestre e senhor, ao qual jamais se deve contrariar ou desobedecer. Em meio às preocupações demasiadas com ‘o que ensinar’ deixa-se de lado o mais importante, o ‘como ensinar’. Uma vez que estamos em constante agitação torna-se impossível preparar um ambiente de tranquilidade para nossos filhos. Deixamos de lado os abraços, os elogios, os beijos, o olho no olho, pois não há tempo para tal. E desta forma, o que seria imprescindível para um dia de estudos de uma família educadora, acaba sendo deixado de lado. O maior desejo de nossos filhos não esta em aprender e saber bem mais que o coleguinha ou vizinho, mas sim em se tornar como ‘o papai’ e ‘a mamãe’. Sim, somos a fonte de inspiração para nossos filhos. Somos responsáveis pela paz em seus coraçõezinhos, fonte de sua felicidade imediata. Se a criança tem dificuldade em assimilar um conteúdo, não nos cabe enche-lo de reprimendas ou mais exercícios, mas em olhar em seus olhos e buscar entender. Buscar novos meios, mesmo que demore muito tempo e que o esplêndido curriculum elaborado inicialmente tenha que ser posto um pouco de lado.


“O recurso será nosso servo e não nosso mestre!”

Na segunda parte deste livro Sarah Mackenzie nos mostra maneiras de como simplificar o curriculum. No entanto, se mesmo assim surgir a dúvida quanto a deixar ou não algo no curriculum, ela recomenda que seja aplicado um filtro que ajudará a clarear as ideias: “Se algo em pauta não promove o calor, a conversa ou a contemplação do que é bom, verdadeiro e belo, então pode precisar sair do curriculum.”

As cinco maneiras de simplificar um curriculum são:
1.       Faça menos: Priorize a qualidade do que esta sendo ensinado e não a quantidade. Do contrário, seus filhos receberam ‘uma pesquisa de tudo e domínio de nada’. Atenha-se ao que realmente importa.
2.       Integrar: Buscar integrar os assuntos. Por exemplo: A leitura em voz alta com a história; Os trabalhos manuais (arte) com a geografia, etc.
3.       Compreenda que os recursos (livros, materiais) têm suas limitações.
4.       Tempo para avaliar e reavaliar: Se planeje para que de tempos em tempos os estudos recebam uma pausa, de modo que você possa avaliar o que foi aplicado ou não e se é necessário modificações. Ex: 6 semanas de estudos x 1 semana de descanso.
5.       Lembre-se do ponto: Tenha sempre em mente qual o objetivo, a meta da educação que desejam dar aos filhos e se deixe guiar por ela.

Outra dica da qual gostei muito e quero deixar aqui registrada é a utilização do que ela chama de ‘looping’, que seria nada mais do que não determinar um dia fixo para o estudo de uma determinada matéria, ou seja, não atribuir uma tarefa a um determinado dia da semana, mas sim criar uma lista de tarefas, uma ordem em que estas devem acontecer, independentemente do dia e seguir esta ordem. Desta maneira mesmo que ocorram contratempos (uma saída não planejada, uma visita inesperada, um filho doente) estas tarefas poderão ser retomadas no dia seguinte a partir do ponto em que parou não ficando nenhum ponto do planejamento prejudicado, pois independente do dia, este acontecerá obedecendo a ordem determinada.

Outro ponto importante na formação de um curriculum é o conhecimento do tempo disponível para os estudos diários. Para isso retire das 24 horas os tempos não negociáveis (dormir, comer, banho, oração, etc) e o que sobrar é o que terá para trabalhar e planejar a rotina diária. No entanto, é preciso manter uma margem, ou seja, planeje para apenas 80% do tempo disponível, deixando assim uma margem para os pequenos atrasos. São detalhes como estes que nos auxiliarão a viver uma educação domiciliar com uma ‘paz inabalável’ como nos diz Sarah.


Ainda não finalizei a leitura do livro, mas este já faz grande diferença em meus dias como mãe educadora. Esta leitura tem clareado meus pensamentos, aumentado minha confiança na ação de Deus em nossa rotina e no aprendizado dos nossos filhos, me encaminhando por um caminho de descanso em Deus, tornando o ambiente mais tranquilo, sem exigências constantes e sem a impressão de estar sempre atrasada, seja com os estudos ou com as atividades rotineiras de uma dona de casa com filhos pequenos. Hoje sei que fazemos ‘a coisa certa, na hora certa’.

Abraço fraterno,

Maya

domingo, 12 de novembro de 2017

TEACHING FROM REST – Sarah Mackenzie – Parte 1

TEACHING FOR REST – Sarah Mackenzie
Parte 1
“A coisa mais importante que uma mãe homescholling pode fazer é ensinar a partir de um estado de repouso/descanso.”

Ao iniciar a leitura deste livro fiquei maravilhada logo nas primeiras linhas, ainda no prefácio. Talvez pelo momento de rotina tumultuada, a frustração das expectativas criadas e não alcançadas na aplicação do currículo criado por mim para um ano já findando, ou ainda pela necessidade de ser bem sucedida na educação acadêmica de nosso filho. Uma visão de sucesso que foi devidamente reordenada a partir da leitura deste livro. A questão é que desde o início o livro foi apresentando todas essas falhas, toda esta ansiedade e pondo por terra muitas das convicções que eu tinha até então sobre como conduzir nosso homescholling.

De fato, a educação domiciliar serve primeiramente aos pais. Somos nós que estamos constantemente aprendendo, vendo nossos vasos de ‘conhecimento e sabedoria’, que supostamente tínhamos, serem quebrados pela ação da Graça Divina e nos vendo ser moldados novamente na Misericórdia do Senhor.

A rotina de uma casa onde a educação domiciliar existe é e precisa ser totalmente diferente das demais famílias. As prioridades são outras, a forma de execução das tarefas, mesmo aquelas simples e rotineiras, ocorre de forma diversa. A necessidade de conciliação das tarefas domésticas, preparação de materiais, estudos, saídas planejadas (missa, consultas médicas, supermercados, etc) e não planejadas (emergências e imprevistos em geral) podem tornar o dia a dia uma luta constante, especialmente se a pretensão da família é uma rotina de estudos engessada como nas escolas, com metas e horários rígidos. Desta maneira, a educação domiciliar pode passar a ser um fardo excessivamente pesado causando todo o tipo de efeito diverso do esperado.

As mães educadoras tem a missão especial de tornar o ensino leve, onde o aprendiz queira aprender, queira praticar, busque o conhecimento, no entanto, ela jamais obterá sucesso se não pratica o ‘descanso’ do qual se fala neste livro.

“O descanso, portanto, não é a ausência de trabalho ou a falta de consideração e realização de um plano.”

O descanso do qual se fala no livro não é se estirar no sofá ou numa rede e deixar a vida seguir seu curso sem preocupação alguma, mas sim a firme confiança de que Deus age em nossa pequenez e insignificância. Que se trilharmos o caminho que Ele nos indica no evangelho e na Santa tradição, se O buscarmos tudo o mais nos será acrescentado. Ensinar no descanso é uma forma diferente do dizer: ‘Faça sua parte, que Eu te ajudarei’. Ele nada mais nos pede do que a fé nos resultados que Ele quer para a vida de nossos filhos. Que aceitemos seus desígnios, que nos resignemos às cruzes diárias que nos são impostas, seja num mal estar, numa doença, numa dificuldade financeira, num comportamento rebelde dos filhos, num cansaço dos trabalhos domésticos, nas ocasiões onde o lado decaído do ser humano fala mais alto, enfim, que aceitemos nossas limitações diárias e descansemos em Seus braços amorosos. O desejo de Deus é que caminhemos sempre para Ele.



“Alguns dias que sinto como tendo que alimentar cinco mil pessoas, mas Ele não está me pedindo para alimentar cinco mil pessoas; Ele só quer que eu traga minha cesta de pães e peixes e coloque aos Seus pés.”




É preciso, sim, que tenhamos um currículo, que saibamos o ‘que’ e ‘quando’ ensinar a nossos filhos, o descanso não é o desleixo. No entanto, não podemos nos permitir ser escravizados por este mesmo currículo, deixando de ensinar a nossos filhos virtudes como a fé, a fidelidade a Deus, a oração, em detrimento da busca de resultados puramente acadêmicos.

A rotina da família educadora deve ser permeada da presença de Deus, do esforço na busca das virtudes, na mortificação em favor do outro, da cooperação, do respeito mutuo, tendo isto os resultados acadêmicos se tornarão simples consequência. É o construir de uma catedral, onde o resultado final, a catedral pronta e edificada, a obra prima não será vista por aqueles que nela muito trabalharam. A colheita dos frutos de uma educação verdadeiramente cristã pode não ser vista agora, no entanto, é um trabalho que por certo  renderá muitos e belos frutos. O mortificar de um pai e de uma mãe em detrimento da formação cristã de seus filhos, jamais será em vão.


Este livro é para ser lido e relido muitas vezes, para assimilar os tantos ensinamentos que ele nos traz, sendo um dos que mais me marcou a necessidade da oração para a mãe educadora. O se colocar a todo o momento na presença de Deus, através de ejaculatórias, pequenas orações e meditações, principalmente naqueles dias em que tudo parece estar fora de lugar. É nestes momentos em que mais devemos ‘descansar’, levar nossos cestos à presença de Deus, pelas mãos de Nossa Senhora e descansar. Confiar que Ele cuida de tudo, inclusive e especialmente de nossas limitações.

Abraço fraterno,

Maya

sábado, 4 de novembro de 2017

Escola sem Deus


ESCOLA SEM DEUS - Monsenhor de Segúr

“A educação sem Deus, a educação materialista mata o espirito e tudo o que se refere à alma imortal.”

Logo no inicio o autor faz um questionamento que, na verdade, resume toda a mensagem do livro: “A escola onde enviamos nossos filhos para receberem a instrução primária, deve ser cristã e ajudar assim a igreja a formar cristãos, ou não deve ocupar-se para nada da religião e deixar este cuidado exclusivamente ao sacerdote e aos pais? A escola deve ser cristã ou deve ser sem religião?”.

Inicialmente, ao ler este questionamento e tendo em mente apenas os valores ou contra valores reinante na sociedade atual, alguns pais, mesmo aqueles cristãos, podem dizer: Sim, melhor uma escola que se ocupe apenas com a instrução acadêmica e deixe a religião com a igreja. Não seria de admirar ouvir os pais dizerem isso em nossos tempos.  Provavelmente o diriam ignorando todo o mal que estariam fazendo às almas daqueles que lhe foram confiados. Os pais estão tão preocupados em tornar seus filhos bem sucedidos no plano material que estão deixando completamente de lado a formação de suas almas, deixando que pessoas que não conhecem, não acreditam e não temem a Deus influenciem seus filhos de forma definitiva, tornando-os ateus ou cristãos mornos, sem conhecimento da própria fé e da doutrina da igreja.

A presença da religião e da igreja numa escola ou mesmo na educação domiciliar possibilita à criança aprender e assimilar ensinamentos como respeito ao mestre (a autoridade), amor ao dever, obediência, constância, esforço, abnegação, etc. Como o autor mesmo diz: “A escola cristã não forma cidadãos. Ela forma cristãos e por consequência bons cidadãos: homens honrados, mulheres virtuosas e devotas ao lar e à família.” Já a falta dela forma um povo corrompido e feroz, resultando na anarquia.

“Para a família, assim como a igreja e a sociedade, a escola sem Deus, a escola sem o crucifixo e sem orações é a ruína e a perdição.”

Fico a me questionar, qual seria a reação deste autor se pudesse ver as escolas, mesmo as que se dizem cristãs, nos dias de hoje? Ainda diria que a escola é a melhor escolha, em detrimento da educação dada pela família? Mesmo que esta não “deixasse suficiente liberdade a tão esmerados cuidados”? Creio que não. Este livro veio reafirmar para mim, mais uma vez, que se o meu objetivo é cumprir o mandato de Deus para a educação e formação dos filhos que Ele me confiou, o cuidado com suas almas e o dever de levá-los a buscar a eternidade, é impossível confia-los às escolas, mesmo que eu não possa me esmerar no ensino acadêmico como gostaria ou deveria.

“Quantos combates e artifícios e inquietações para a formação do menino. A vida de uma terna mãe se esgota nessas lutas de amor e a autoridade paterna tem necessidade de intervir frequentemente com energia.”

De fato, não é fácil a rotina de uma família que opta pela educação domiciliar, em especial da mãe, que por vezes opta por sair do mercado de trabalho para dedicar-se exclusivamente à família. Administrar os cuidados da casa, os cuidados com os filhos pequenos, os imprevistos que surgem cotidianamente, com a educação formal das crianças (pesquisas, estudos, cursos, preparação de material e a aplicação do conteúdo propriamente dito), requer um esforço quase sobre humano. Requer que queiramos abraçar a cruz que nos foi confiada, beijá-la, amá-la e seguir confiante de que a Graça e Misericórdia de Deus nos alcançará, virá ao nosso socorro e nos fortalecerá.

“Pais de família, cuidai mui seriamente da educação que procurais para vossos filhos: disso dependerá a felicidade futura da juventude e por conseguinte, da sociedade.”

Encerro este resumo com as palavras de Nosso Senhor que nos diz: “34b Se alguém me quer seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. 35.Porque o que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas o que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, salvá-la-á. 36.Pois que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida? (Mc 8, 34b-36)”


 Abraço fraterno,

Maya

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

DIVINI ILLIUS MAGISTRI - PAPA PIO XI


Encíclica DIVINI ILLIUS MAGISTRI – PAPA PIO XI


“O fim próprio e imediato da educação cristã é cooperar com a graça divina na formação do verdadeiro e perfeito cristão”“...a educação cristã abraça toda a extensão da vida humana, sensível, espiritual, intelectual e moral, individual, doméstica e social, não para diminuí-la de qualquer maneira, mas para a elevar, regular e aperfeiçoar segundo os exemplos e doutrina de Cristo.”

Na presente encíclica a Papa Pio XI se dirige a toda a igreja, mas também aos pais e mães de família e mesmo estando no ano de 1929, que pode parecer ser um tempo distante demais, já fala em ‘tempos de grande falta de claros e sãos princípios’.

A igreja foi a grande formadora da cultura ocidental, partiu dela a criação de escolas, universidades, incentivos a pesquisa, desenvolvimento e conservação das artes em geral. Sendo uma mãe zelosa está sempre a vigiar as mudanças que vão surgindo no mundo, nas investidas contra a dignidade do homem e contra a família. Nesta encíclica o Papa já nos alerta sobre os muitos métodos e teorias pedagógicas que estariam surgindo, oferecendo receitas infalíveis que preparariam as gerações para a felicidade terrena.

“Por isso é que para eles criou e promoveu, em todos os séculos, uma imensa multidão de escolas e institutos, em todos os ramos do saber...”

O texto deixa claro que a primazia no tocante a educação pertence à família, podendo esta ser auxiliada pelo Estado, desde que seja respeitada a doutrina da igreja. É um direito e um dever da família zelar pela educação dos filhos, sendo esta uma missão recebida do próprio Deus, quando a confiou a guarda destas almas. Segundo o Papa Pio XI, esta ‘obrigação do cuidado da parte dos pais continua até que a prole esteja em condições de cuidar de si, assim como o direito educativo dos pais também perdura’.

Lendo a presente encíclica e lançando um olhar para os nossos dias, particularmente, não creio ser possível olhar para a escola, seja ela pública, particular, laica ou confessional sem que o coração fique perturbado. Não posso afirmar que não existam mais escolas católicas que sejam verdadeiramente católicas, que priorizem a educação cristã, que guarde os alunos de tantas perversões, que zelem por uma educação verdadeira, que busque educar o homem de forma integral, (corpo, mente e alma), no entanto, posso afirmar categoricamente que esta não é uma realidade nas escolas que conhecemos e a que temos acesso. Hoje, os pais que desejam responder ao chamado de Deus na educação de seus filhos não possuem nenhuma opção que não a educação domiciliar, nos moldes em que era praticada antes da criação das escolas.

“Devem portanto os pais esforçar-se e trabalhar energicamente... e assegurar de um modo absoluto que lhes fique o poder de educar cristãmente os filhos, como é da sua obrigação, e principalmente o poder de negá-los àquelas escolas em que há o perigo de beberem o triste veneno da impiedade.”

Em se tratando de educação dos filhos, os pais precisam travar uma verdadeira guerra contra o Estado, justamente para assegurar o direito da educação em detrimento do próprio Estado, que deveria proteger a família com o uso de sua autoridade civil e não usar esta autoridade para subjugar e anular o poder decisório da família no tocante a educação dos filhos. O Estado quer que a família seja passiva e alheia a educação dos filhos, tanto quanto possível, para então moldá-los conforme seus ideais. Os pais que optam por colocar os filhos na escola e que buscam vigiar, opinar, defender os interesses da família e do filho diante da comunidade escolar são vistos como um grande incômodo, encontrando todo o tipo de resistência.

A educação domiciliar é uma ‘revolta’ das famílias que perceberam, pela graça de Deus, todo o dano que uma formação defeituosa tem causado a toda a sociedade. Ao lançarmos um olhar para os grandes doutores da igreja, para os ensinamentos dos Papas e para a própria história da humanidade é fácil perceber que uma educação onde Deus não esteja no centro, onde fé e razão caminhem de mãos dadas, esta fadada ao fracasso.

“A Fé e a razão não só não podem contradizer-se nunca, mas auxiliam-se mutuamente, visto que a reta razão demonstra os fundamentos da Fé, e iluminada pela sua luz, cultiva a ciência das coisas divinas, ao passo que a Fé livra e protege dos erros a razão e enriquece-a com vários conhecimentos.”

Creio que o Papa Pio XI deu especial atenção a educação escolar por saber que esta é a opção da grande maioria dos fieis. São muitas as famílias que trilharão este caminho e que para responderem ao ordenamento de Deus e da Madre Igreja enfrentarão muitos espinhos, viverão sua própria via crucis e contarão com o socorro da Graça Divina. Na educação domiciliar não será diferente, as famílias viverão também muitas dificuldades, terão que recorrer constantemente à Misericórdia do Senhor e terão que acreditar que a Graça Divina suprirá toda e qualquer deficiência que por ventura tiverem. A educação domiciliar é um chamado particular a que devemos responder sempre esperando em Deus.

São muitas as riquezas que podem ser colhidas com a leitura desta encíclica. A diversidade de assuntos tratados (educação para a fé, ideologias que incentivam o abandono da fé e uma autonomia egoísta, educação sexual, escolha da educação a ser dada, tipos de escolas, etc) e a importância destes, assim como a devida orientação para cada assunto proporciona muitos dias de reflexão. Ressaltarei aqui aquela que veio de encontro a nossa realidade e anseios, palavras essas que acatamos como um ordenamento para nossa família e que reforçaram o objetivo que elegemos para a educação dos filhos que Deus nos confiar: “Nunca o estudo da língua pátria e das letras clássicas redundará em detrimento da santidade dos costumes.” Deus deve estar sempre em primeiro lugar, presente em tudo o que for estudado, o olhar a ser lançado deve sempre ser um olhar que busca encontrar Deus em toda a sua criação.

“...em geral, a educação mais eficaz e duradoura é aquela que se recebe numa família cristã bem ordenada e disciplinada, tanto mais eficaz quanto mais clara...”


quarta-feira, 13 de setembro de 2017

O que ensinar antes dos 10 anos!

ENSINANDO O TRIVIUM  - ESTILO CLASSICO DE MINISTRAR A EDUCAÇÃO CRISTÃ EM CASA.

CAPITULO 11 – O nível de conhecimento precoce – O que ensinar antes dos 10 anos?
Harvey e Laurie Bluedorn

“Cada criança é um individuo especial, crescendo em uma família única, onde Deus as colocou.”

Quando paro para pensar na maternidade e a grande dádiva que é ser mãe é impossível não pensar também na grande responsabilidade que esta missão incute. Receber para zelar e amar uma alma imortal e única criada à imagem e semelhança de Deus e ter o dever de guia-la à eternidade, parece ser algo muito além das minhas capacidades. No entanto, saber que o mesmo Deus que me confiou tal missão esta sempre disponível a vir em meu socorro traz uma grande paz e também o desejo de ser agraciada com mais missões.

Hoje sabendo o que é a educação domiciliar e o bem que ela traz aos nossos filhos me parece absurdo não optar por este caminho e expor a inocência delas aos tantos malefícios que a sociedade moderna proporciona. Porém, minha insegurança ainda é o ‘como fazer’. Inicialmente ao pensar na educação domiciliar achei que a forma como faria era algo quase óbvio: selecionar materiais, apostilas, livros, criar um cronograma e aplicá-lo. Simples assim! Mal sabia eu que a minha mente era total, mas não irrevogavelmente (graças a Deus!), escolarizada. Ao dar os primeiros passos e leituras já de imediato percebi meu engano, minha cegueira. Eu não queria apenas não levar meus filhos à escola, eu queria educá-los. Encucar em seus corações valores que estão muitíssimo além de cronogramas, livros e tarefas pedagógicas. E então me vi no mais completo e absoluto escuro, consciente da minha total ignorância do que seria educar um filho. Desde então foram muitas as leituras, pesquisas, cursos, troca de experiências, conversas com outras mães e claro, orações. E por fim vejo que começo a ver não o completo breu, mas já uma névoa.

Este capítulo, assim como todos os demais lidos até o momento, se mostrou uma feliz surpresa. Ou melhor, mais que isso, se mostrou como um farol que clareou e indicou a direção a ser seguida. Fez-me ajustar as velas e corrigir muitas coisas na prática da educação domiciliar em minha casa e também das minhas preocupações. Num mundo onde tudo nos pede para sermos melhores, não que nós mesmos, mas melhores que os outros, acabei não conseguindo definir as prioridades segundo o que realmente importa, levando em consideração primeiramente as afinidades de meu filho e sim o que pedem currículos, psicólogos, pedagogos e tantos outros mais. Talvez seja o medo de que ele tenha que ser avaliado pedagogicamente por tais profissionais, tendo em vista as incertezas jurídicas que ainda vivemos no Brasil quanto a educação domiciliar, ou apenas neuroses modernas de pais que desejam super filhos. Não sei ao certo, mas o mais importante é que este capítulo veio trazer luz e me fez reajustar os caminhos.

São tantas as preciosidades contidas nesse capítulo que seria quase impossível destacá-las aqui nessas linhas sem, no entanto, reproduzi-lo, então partilharei apenas o que mais me auxiliou. Os autores afirmam que uma criança numa fase de conhecimento precoce, ou seja, até os 10 anos de idade, depende principalmente de experiências concretas e sensoriais para se desenvolver e estar preparada para o ensino acadêmico mais elaborado dos 11 anos em diante. É através do real e palpável que a criança compreenderá o mundo a seu redor, o funcionamento das coisas e até a si mesma e por isso recomendam a distancia dos dispositivos eletrônicos, que acabam por causar lacunas, talvez irremediáveis, no desenvolvimento cerebral de uma criança. Por mais educativo que seja são muitas as coisas que a criança deixará de aprender ao utilizar o mundo virtual ao invés de coisas reais e concretas.

Nos primeiros anos de vida de uma criança é preciso focar em coisas como:
- Honrar a Deus e aos pais – Exatamente nesta ordem. A criança precisa compreender a importância e o devido lugar de Deus em suas vidas e em suas famílias e por consequência honrar e respeitar os pais, vendo-os como autoridade em suas vidas, autoridade esta outorgada por Deus e que honrando aos pais, honrarão também a Deus. Para tal os pais precisam ser exemplo de servos de Deus para seus filhos e valorizar os momentos de oração da família (devocional), em fidelidade e conteúdo.

- Desenvolver habilidades linguísticas: Trabalhar leitura e escrita (cópias de textos estruturados e de boa qualidade), capacidade de narração, conhecimento de outras línguas (fala e escuta);

- Desenvolver o gosto pela aprendizagem: Incentivar a busca por respostas a seus questionamentos, gosto pela pesquisa.

- Enriquecer a memória: Treinar a memorização e recitação de textos, poemas, versículos, entre outros, incentivando a criança a desenvolver a capacidade de memorização nesta fase que é tão propícia. Ler em voz alta para a criança, não se atendo a textos infantilizados e sim dando prioridade a histórias bem construídas.

- Estimular a criatividade: Expor a criança a Arte de qualidade (música, pintura, escultura, etc) realizando passeios e visitas a museus, exposições de artes, livrarias, bibliotecas e incentivá-la a criar arte deixando a seu alcance materiais para tal.

- Gosto pelo Serviço e pelo trabalho: Possibilitar à criança ocasiões onde ela pode servir ao próximo seja em asilos, creches, igrejas. Não realizar em casa os serviços que ela já consegue realizar, incentivando-o sempre a realizar as tarefas com dedicação.

“Não faça sozinho o que seu filho pode fazer por você.”

- Disciplina: Ensinar os filhos a obedecer à primeira ordem, sem ficar a repetir várias vezes ou ainda recorrer a elevação no tom de voz. As crianças só aprenderão a autodisciplina quando aprenderem a obedecer seus pais.

- Brincar e explorar: E por fim, não poderia ficar de fora o ‘ser criança’, deixa-las brincar, descobrir o mundo a seu redor através de explorações livres, deixar que soltem sua imaginação e perceberem que o mundo é um lugar maravilhoso, incrível e assim entenderão um pouco do Amor que Deus tem por elas, pois criou tudo isso, especialmente para elas e pensando nelas.

Posso dizer que este não foi o capítulo que mais me ensinou sobre o Trivium neste livro, mas com toda a certeza foi o que mais me ajudou nesta fase de definições na educação em minha casa.

Abraço fraterno,


Maya